Os Mundos de Fantasia

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sábado, 18 de junho de 2022

Um tratado sobre a individualidade

 Este é um texto escrito por um elfo aventureiro, conhecido por criar a Ilha dos Guerreiros Imortais:

"Recentemente, em contato com um ser que parece estar ligado às forças ordeiras do Cosmo (embora eu ainda não tenha definido com precisão se ele também está ligado às forças malignas), fui acusado (em um tom cordial, é verdade) de possuir a mesma sede de poder que este ser possui. Tal argumento forçou uma reflexão que eu achei importante registrar como um tratado sobre a individualidade.

Com certeza a afirmação deste ser se baseia primordialmente no fato de eu ser o principal responsável pela criação da Ilha dos Guerreiros Imortais. A criação da ilha está diretamente ligada aos anseios do indivíduo. Além deste motivo principal, também há outro: eu sou um elfo. Um elfo é membro de uma espécie fascinada por magia, natureza, beleza, liberdade, diversão e alegria. Não enxergue os elfos de maneira leviana, entretanto. Um elfo pode ser muito sério quando está dedicado a algo pelo o que é fascinado. Nossa espécie é conhecida por feitos inalcançáveis pelas outras, sejam arquitetônicos, literários, poéticos, musicais ou mágicos. Se um elfo obter uma fonte de magia avassaladora, será impossível que ele não tente ao menos experimentar com ela. A beleza da magia é um encanto forte demais para nós.

Entretanto, as almas élficas são dotadas de uma certa temperança oriunda da longevidade. Uma espécie de bom senso inerente e um respeito pelo fator tempo. O mesmo elfo que encontrou uma fonte avassaladora de magia e experimentou criar uma imagem de unicórnio com um Truque, poderia decidir ocultar tal fonte para proteger o mundo natural das consequências de seu uso indevido.

Eu não sou um elfo comum. Minha forma não é agraciada com a beleza padrão de minha espécie, minha mente não se deleita no mesmo grau que meus pares se deleitam em vinho das fadas, piadas e danças. Minha paixão é a magia e a exploração. Sempre me dediquei ao arqueirismo, à esgrima e ao estudo da magia. Minha paixão pela magia se dá mais pela sua beleza inerente e seu potencial como ferramenta. Olho algo e logo penso: 'é bom assim, mas poderia ser diferente'.

Tenho limitações, obviamente, mas isso faz parte da individualidade. O lendário Rei Curucyan possuía uma eloquência de proporções divinas, mas o que é pouco retratado na história, é que ele quis desistir muitas vezes. Foi a vontade de ferro da sacerdotisa Elendar que o impeliu durante toda a árdua jornada da Unificação das Nações. Foi o olho de águia de Ciryanar que abateu seus piores inimigos com suas flechas, e o braço forte de Tirinyus que os protegeu com seu escudo. As individualidades se chocam e delas surge o potencial de feitos realmente épicos que fazem os seres evoluirem. Individualidades se completam. Não é preciso uma lei rígida para guiá-las se essas individualidades estão no caminho da evolução.

Conheço um gnomo que venerava uma divindade maligna, provavelmente porque para ele, a essência da natureza presente nela deveria ser respeitada, e seu poder era útil para os objetivos dele. O gnomo não era maligno, e impelido por seus companheiros, seus feitos eram tão épicos quanto os dos outros heróis. Mesmo assim, o gnomo continuou a evoluir, ao ponto de procurar outra força cósmica mais benéfica para seguir. Testemunhei uma cura milagrosa que efetuou em um pobre aldeão, julgado e abandonado à seu própria sorte (no caso, azar) pelo seu regente. Sem pedir nada em troca. Ele o fez, porque era o certo a se fazer. Nenhuma lei, nenhuma regra o impeliu a realizar a cura, apenas a influência de seus pares e sua própria vontade de evoluir.

Creio que até mesmo orcs podem evoluir. Muitos elfos e anões se indignariam com minha afirmação, tendo vivido na pele as atrocidades de gerações e mais gerações de bárbaros sanguinolentos. O próprio regente que abandonou sua espécie para seguir seu próprio caminho, não percebeu que esse mesmo ato o afastou levemente da trajetória da ordem para o colocar no caminho da evolução. Se ele vai seguí-lo ou retroceder, cabe apenas a ele.

Até mesmo os animais podem evoluir. Há fortes indícios de que os humanos evoluíram de primatas. Novamente, sábios e religiosos humanos se revoltariam com minhas palavras, já que os elfos foram tocados diretamente pelos poderes cósmicos. Mas a própria evolução dos animais, não foi tocada pelo Cosmo? Não seria até, mais bonita e épica do que uma influência direta dos poderes em uma raça?

Já imaginou o quão belo e heróico seria um orc forjando uma paz duradoura entre nações? Eu mesmo me curvaria a um ser tão heróico, e se achasse que no momento, serví-lo em nome de sua causa traria um bem maior do que seguir meu próprio caminho, ofereceria-lhe meus serviços sem pestanejar.

Note porém, que a servidão nunca pode ser cega. Daí o poder do indivíduo. Sua busca por evolução e conhecimento deve ser incessante. Seu julgamento deve ser criterioso e atento. Nós elfos bem sabemos porque muitas vezes somos governados por monarquias. A monarquia é uma marca de seres extremamente evoluídos que nos guiaram em momentos difíceis. A nobreza élfica advém de uma crença de que um elfo muito evoluído passa seus dons para seu filhos. Mas ai do elfo que trai sua herança. dizem que não há julgamento mais cruel do que elfos julgando um traidor. Mais de uma casa nobre caiu em desgraça por trair os ideais da raça élfica.

O indivíduo, em última instância, é o mais importante. É dele o poder de reunir outras individualidades que buscam a evolução para extirpar o mal que traz a estagnação ou o retrocesso. Há um debate sobre a evolução de um indivíduo depender de seus atributos. Não, como citei no exemplo do lendário rei élfico, não se trata de atributos ou raça. Um simples artesão pode mover nações, dependendo do caminho que trilha. É uma questão de crença e destino. Não o destino que extingue o livre-arbítrio, esse não passa de uma lenda, mas o destino que na verdade é uma somatória de fatos aleatórios.

Nós elfos, somos conhecidos, devido à nossa longevidade principalmente, de mudarmos de profissão com frequência. A própria palavra, profissão, não se encaixa muito bem com a sociedade élfica, pois buscamos o que gostamos e com o passar das décadas, mudamos o foco. Seja porque já atingimos certo grau de perfeição em algo (o que ocorre com frequência), seja porque achamos algo mais belo, interessante ou desafiador. O fato é que a maioria dos elfos domina muitas áreas de conhecimento, mas os poucos que querem exceder o grau máximo de algo, acabam se tornando mestres supremos daquela arte.

Os dois caminhos são válidos. Evoluções diferentes. Nós, aventureiros, temos certa obstinação por um ou mais desses caminhos. É simplesmente uma questão de escolha. Todo aventureiro sabe que precisa evoluir. Quanto mais poderoso é um aventureiro, mais ele pode afetar a realidade à sua volta. O poder do indivíduo. Nós no entanto, sabemos que um aventureiro solitário corre grande perigo. Nós agregamos nossas individualidades e formamos verdadeiros aglomerados de poder, juntos podemos realmente mover o mundo. Juntos, podemos trazer o verdadeiro bem oriundo da evolução para todos que a querem. Infelizmente, existem aqueles que se corrompem com o poder. Maravilhados pela capacidade do indivíduo alterar sua realidade, esquecem-se da nossa responsabilidade para com os menos evoluídos. É nosso dever lutar para que todos tenham a capacidade de evoluir. Quando a grande massa de seres sencientes tiver evoluído o suficiente, só haverá paz e alegria no Cosmo."